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O raio-x dos investimentos brasileiros em Miami

forbes.uol.com.br/negocios/2018/04/o-raio-x-dos-investimentos-brasileiros-em-miami/

Miami não é mais sinônimo apenas de turismo, compras e diversão, imagem que muitos brasileiros aprenderam a associar a ela. Nos últimos anos, a metrópole americana se consolidou como ponto de atração de investimentos e empreendimentos de grande porte, tendo se tornado um dos principais destinos do dinheiro estrangeiro que circula na mais latina das cidades dos Estados Unidos.

Segundo dados do Consulado Geral do Brasil em Miami, ela está em posição de destaque no mapa dos 300 mil brasileiros que vivem na Flórida – a maior concentração verde-amarela em um estado americano. Juntos, eles movimentam US$ 5 bilhões por ano e são os estrangeiros que mais gastam em imóveis em Miami e outras cidades do sudeste do país, como Orlando e Fort Lauderdale. Isso sem contar investimentos em outros setores, como indústria, finanças, alimentação e varejo.

Um dos pioneiros em apostar muitas fichas em Miami foi o empresário carioca José Isaac Peres, dono do grupo Multiplan. Nos anos 1990, o grupo investiu na construção de um condomínio de luxo na Ocean Drive, uma das avenidas mais nobres da cidade americana. Concluído em 1998, o Il Villagio recebeu investimento de US$ 75 milhões na construção de um condo de 127 apartamentos distribuídos em 16 andares, com vista para o mar. Na época do lançamento, em 1995, o preço das unidades variava de US$ 250 mil a US$ 700 mil. Para se ter ideia da pompa que cercou o lançamento, a festa de apresentação do projeto teve a presença do tenor italiano Luciano Pavarotti. No ano de conclusão, o Il Villagio foi premiado pela Ernest & Young como melhor empreendimento imobiliário multifamiliar dos EUA.

Recentemente, Peres voltou à carga no mercado imobiliário de luxo de Miami, em carreira solo. O magnata submeteu ao Miami Beach Design Review Board, no ano passado, seu projeto de construção de uma torre residencial de luxo na área que abriga um dos edifícios mais antigos de Miami Beach. Para isso, a Miami Beach Associates LLC, empresa de Peres na Flórida, solicitou a demolição do Marlborough House Condominium, prédio de 12 andares que ocupa desde 1961 um endereço privilegiado, de frente para o mar, na Collins Avenue. A proposta de demolição causou polêmica – vários moradores e frequentadores do bairro manifestaram-se contrariamente, com argumentos ligados à preservação histórica e arquitetônica do lugar.

Precavido, Peres não quis falar sobre o projeto, mas, segundo fontes locais, a companhia do empresário na Flórida adquiriu as 110 unidades do Marlborough House dos proprietários individuais em várias transações, numa negociação concluída na segunda metade de 2016. A compra de todos os imóveis da área de 5.900 metros quadrados foi estimada pelo mercado em US$ 100 milhões.

Empreendimento de Isaac Peres: desbravador

No endereço, na 5775 Collins Ave, o bilionário brasileiro pretende erguer uma torre de 17 andares, com 86 apartamentos, garagem subterrânea, salão de festas e piscina de frente para a praia.

TRAMPOLIM

Outra empresa brasileira que elegeu Miami para lançar âncora nos EUA foi a Pandurata Alimentos, dona da marca de panetones Bauducco. Depois de quase quatro décadas exportando para o mercado americano via Miami, a companhia decidiu instalar na metrópole um complexo com fábrica, centro de distribuição e centro administrativo – como trampolim para os demais estados americanos.

“Nós temos uma visão muito ambiciosa para a expansão, e os Estados Unidos são o melhor mercado para o desenvolvimento”, disse Erik Volavicius, diretor de marketing da Bauducco nos EUA, na época do anúncio do projeto. “Escolhemos Miami porque, como o Brasil, ela tem uma cultura muito diversificada. E também por causa de suas vantagens logísticas.”

Primeira planta da marca fora do Brasil, a fábrica de 22 mil metros quadrados iniciou operações em 2016 produzindo panetones, wafers, biscoitos e torradas. Além do mercado americano, onde a maior fabricante de panetones do mundo já detinha então uma participação de 54% do segmento, a unidade também foi criada para abastecer o Canadá e Porto Rico. A Pandurata, de São Paulo, não divulga valores de investimento, mas o governo de Miami revelou que só na primeira fase do projeto a empresa injetou US$ 12 milhões.

NA MESA, NO BALCÃO E NA PAREDE

Também no varejo e no mercado de gastronomia, o sotaque brasileiro se faz ouvir em Miami. Grandes redes como Madero, Coco Bambu, Giraffas e Paris 6 abriram restaurantes na cidade. O chef celebridade Henrique Fogaça está em fase de prospecção de ponto para abrir lá uma unidade de seu restaurante, o Sal Gastronomia.

Bischoff, uma das marcas brasileiras em Miami

Lojas de marcas nacionais como Saccaro (móveis), Track&Field (moda fitness), Orlean (revestimentos de paredes e tecidos), Artefacto (móveis), Morana (bijuterias finas), Água de Coco (moda de piscina e jardim), Tidelli (móveis de praia) e Jorge Bischoff (calçados) também marcam presença na cidade.

Esta última desembarcou na cidade há cerca de um ano, com sua primeira flagship nos EUA, no Brickell City Centre. “Escolhemos a Flórida para realizar esse avanço histórico porque a consideramos uma região fundamental e estratégica para posicionarmos a marca na América do Norte”, afirma o empresário-designer Jorge Bischoff. “Miami, especialmente, é um dos palcos onde o mundo inteiro transita. A cidade é extremamente cosmopolita, tem alto astral e muita energia. Estamos alcançando um bom desempenho e procurando aprender muito com o varejo dos Estados Unidos”, conta.

Outra área que vem levando empreendimentos brasileiros a Miami é a arte. No rastro do sucesso do consagrado artista pop pernambucano Romero Britto, que tem um QG na Lincoln Road, artistas e galerias verde-amarelas estão “pendurando” suas molduras na metrópole. Recentemente, foi a vez de a art adviser brasileira Bianca Cutait inaugurar lá a galeria Arte Fundamental.

ESCRITURA DE LUXO

O grande hit dos investimentos brasileiros em Miami, no entanto, são mesmo os imóveis. De acordo com levantamento da Receita Federal, 4.765 brasileiros investiram no mercado imobiliário da cidade americana entre 2011 e 2015. Só em 2015, último ano do acompanhamento da Receita, compradores do Brasil foram responsáveis por 12% de todas as aquisições imobiliárias na metrópole e gastaram US$ 730 milhões na aquisição de apartamentos e casas – um valor médio de US$ 766 mil por imóvel.

Os brasileiros chegaram a alcançar a segunda posição entre os estrangeiros que mais investem no mercado imobiliário da cidade. “Em 2010, eles salvaram Miami da maior crise imobiliária que os Estados Unidos já viram”, afirma Eduardo Cofresi, do Master Brokers Forum, que reúne profissionais de real estate da metrópole. O setor imobiliário já verificou que o interesse oscila conforme o câmbio do real. Outro motivador é a insatisfação com a instabilidade e a insegurança do Brasil, o que leva investidores a aportar dinheiro fora do país. E não faltam brasileiros que compram imóveis em Miami para transformá-los em seu endereço definitivo.

PÓS-CRISE

Depois de um recuo entre 2015 e 2016, os investidores brasileiros voltaram às compras no ano passado. Levantamento divulgado pela Miami Association of Realtors aponta que ocupamos a terceira posição entre os maiores compradores estrangeiros de seus imóveis – só atrás da Colômbia e Venezuela.

O retorno do dinheiro brasileiro é confirmado por incorporadoras com projetos na cidade. No condomínio de luxo Turnberry Ocean Club, com entrega prevista para este ano em Sunny Isles Beach, 21% dos compradores internacionais são brasileiros. No edifício Three Hundred Collins o percentual chega a 25%. O One Thousand Museum reporta que, na pré-venda, mais de 20% dos compradores são do Brasil. Proporção idêntica foi registrada no luxuoso empreendimento The Ritz-Carlton Residences, também em Sunny Isles, que deve ser finalizado no ano que vem. Brasileiros também representam 20% dos compradores do prédio de 212 unidades espalhadas em 52 andares, com preços que variam de US$ 2,7 milhões a US$ 25 milhões (a cobertura). O projeto tem cerca de 70% das unidades já comercializadas.

“Normalmente, os brasileiros oscilam entre o primeiro e o segundo lugar entre os compradores estrangeiros – e número 1 nas vendas em dólar”, conta Edgardo Defortuna, CEO do Fortune International Group, que dá chancela ao Ritz-Carlton e a vários grandes desenvolvimentos em andamento em Miami e em outros lugares do sul da Flórida. “Eles tendem a comprar as unidades mais caras.”

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